Esta semana foi lançado um novo manual da Direcção-Geral de Saúde com Linha de Orientação para profissionais e educadores para crianças dos 0 aos 6 anos que podem consultar aqui.
O manual chama a atenção para alguns pontos importantes, deixo aqui os pontos positivos que destaco:
Introdução:
- A introdução refere e justifica novamente a importância da alimentação nos primeiros anos de vida para o desenvolvimento da criança e a influência para a sua vida.
- Os primeiros anos de vida são determinantes para a aquisição e sedimentação de hábitos alimentares saudáveis, mas também na expressão máxima do potencial individual de crescimento e de desenvolvimento neurocognitivo e ainda na modulação individual do risco de doenças crónicas do adulto, nomeadamente da doença cardiovascular, diabetes e cancro, entre outras.
Necessidades nutricionais
- As “necessidades nutricionais” têm como objetivo último garantir o alcance do máximo potencial genético e minimizar o risco de doença, quer de imediato quer a longo prazo.
- O incumprimento das necessidades nutricionais, traduzido pelo excesso ou défice do aporte calórico tem repercussões a curto prazo (ao comprometer o crescimento e o desenvolvimento harmoniosos), mas também a longo prazo, ao hipotecar a saúde futura
1º ano:
- O leite materno, em exclusivo, é o alimento ideal para suprir as necessidades nutricionais do lactente nos primeiros seis meses de vida.
- O ato de amamentar e o leite materno de per si têm vantagens que ultrapassam a mera alimentação /nutrição.
- O recém-nascido deve iniciar a amamentação na primeira meia hora de vida e manter o aleitamento materno exclusivo, sempre que possível, até ao mais próximo possível do 6º mês.
- Durante o primeiro semestre de vida, caso o leite materno se torne insuficiente, a alimentação deve continuar a ser exclusivamente láctea, devendo utilizar-se, em complementaridade ou em alternativa, fórmulas infantis, cuja composição é concebida para se aproximar à do leite humano
- A partir dos seis meses de vida é essencial a introdução progressiva de outros alimentos, além do leite materno.
- Devem ser oferecidos ao lactente apenas alimentos que integram a cadeia alimentar e a “roda dos alimentos”.
- Pode iniciar-se a diversificação alimentar pelo creme de legumes ou papa de cereais com glúten. O início pelo creme de legumes tem como vantagem proporcionar um maior treino de paladar/ texturas e oferecer um menor
valor energético. - A alimentação durante o 1º ano é de extrema importância, pois molda as preferências, mas também a saúde/doença para a vida (programação comportamental e metabólica).
- A ingestão de lípidos deve corresponder a 40% do valor energético total diário, uma vez que estes são constituintes fundamentais das membranas celulares, da retina e do sistema nervoso central.
- A ingestão de sal (de adição) está contraindicada no 1º ano de vida.
2º e 3º ano:
- A identidade cultural deverá ser respeitada, pelo que o cumprimento das necessidades nutricionais poderá ser obtido através de diversos padrões alimentares.
- Aos 12 meses a criança é integrada na rotina e no plano alimentar da família. O exemplo e as escolhas familiares e da escola são determinantes na modelação do comportamento alimentar. Não mande fazer: faça! Seja um exemplo!
- Deverão ser respeitados os sinais de autoregulação do apetite de cada criança, competindo aos educadores a aposta na diversidade.
- Os hidratos de carbono devem ocupar 45-60% e os açúcares livres não devem exceder os 5% do valor energético total. São açúcares livres todos os adicionados aos alimentos e/ou bebidas e os açúcares naturalmente presentes em alimentos como mel, xaropes e sumos de fruta. O consumo excessivo de frutose (que não a da
fruta fresca inteira) está associado a doença hepática não alcoólica, já em idade pediátrica. - Os lípidos devem corresponder a 35-40% do valor energético total, com um valor máximo de 8% para a gordura saturada e de 1% para os ácidos gordos trans (presentes em alimentos processados). É relevante manter uma razão adequada dos ácidos gordos ómega-6/ómega-3 pelo que para além dos ómega -3 provenientes do peixe devemos ingerir os que provem de frutos secos.
- A ingestão proteica recomendada oscila entre os 0,8-1,2g/kg/dia, devendo ser privilegiada a proteína de alto valor biológico (carne, ovo, peixe, leite), sem descurar a oferta de proteína vegetal.
- Deverá ser tida em especial atenção a adequação do aporte de ferro, de cálcio e de vitamina D, devendo ser evitada a adição de sódio (sal) aos alimentos.
Dos 3 aos 6 anos:
- O comportamento da criança é moldado por contextos próximos (família e escola), condicionados por contextos sociais mais alargados. A criança aprende por imitação e exploração.
- Entre os 3-6 anos (idade pré-escolar) as crianças necessitam dos mesmos nutrientes, mas em quantidades menores por kg de peso corporal do que as crianças nos primeiros 2 anos de vida.
- Deve ser limitada a ingestão de açúcares de adição ou de açúcares presentes em alimentos como mel, xaropes, sumos e concentrados de fruta. O consumo de frutose (que não a presente naturalmente na fruta fresca inteira) está associado a doença hepática grave, já em idade pediátrica.
- A partir desta idade, as recomendações relativas a lípidos já são menores (20 a 35% do total energético diário) comparativamente às observadas para os 1º e 2º anos de vida.
- Deve privilegiar-se a proteína de alto valor biológico (carne, ovo, peixe, lacticínios), sem esquecer a oferta de proteína vegetal.
- O leite e derivados são indispensáveis como fonte de cálcio e de outros minerais, mas não devem ser consumidos em quantidades excessivas (até 400-500 ml / dia), com o risco de dar origem a uma ingestão excessiva de proteína. O leite não deve ser confundido com uma bebida, já que é um alimento, pelo que deve ser consumido apenas nas refeições em que é recomendado (pequeno-almoço e lanches).
- As necessidades em micronutrientes por kg de peso corporal são mais elevadas do que as do adulto (para fazer face ao crescimento) mas em valor absoluto diário são inferiores.